terça-feira, julho 18, 2006

E a tal da ética?

Alguns de vocês já devem ter ouvido falar do “Dilema do Prisioneiro”, porém acredito que muitos (principalmente aqueles que não frequentaram business schools ou aulas de economia) não o conhecem. Em poucas palavras, quando aprendemos o tal dilema do prisioneiro, aprendemos que duas empresas atuando no mesmo ramo maximizariam os lucros caso cooperassem entre si e seguissem uma determinada estratégia sem o objetivo de prejudicar a outra empresa. Porém o tal dilema nos ensina que isso nunca acontece e que fatalmente uma das empresas vai trair, vai faltar com a palavra, vai mentir...resultado: maiores ganhos imediatos e perda para ambas as empresas no longo termo.

Nós aprendemos o tal dilema na primeira fase do MBA na matéria de Business Economics, porém foi na semana passada durante o primeiro seminário do IPP que nós fizemos um exercício prático do tal dilema. No exercício nós fomos divididos em 2 grupos e eu fui eleito líder do meu grupo. Logo que começaram as discussões sobre a nossa estratégia eu disse que nós poderíamos escolher a estratégia que quiséssemos, porém eu me negaria a faltar com a palavra ou mentir, uma vez que eu seria o representante do nosso grupo para negociar com o outro grupo. E disse ainda que caso o grupo quisesse agir de tal forma, que elegessem um outro líder.

Depois de muita discussão, todos concordaram e eu fui pra sala de negociações. Não cabe dar nome aos bois aqui nesse blog, mas a pessoa que veio negociar comigo é uma grande amiga do MBA e eu me senti aliviado quando vi que ela entrou na sala pois pensei “nela eu posso confiar”. Voltei confiante para o nosso grupo e disse, vamos com a nossa estratégia até a próxima rodada de negociações e manteremos a nossa palavra. Nesse meio tempo, 4 dos 7 integrantes do grupo começam a pôr em dúvida a estratégia e dizem que nós deveríamos tomar uma outra posição antes que o outro grupo o fizesse. Foi aí que eu usei os poderes que me foram delegados no começo do jogo e disse que a minha palavra seria mantida e que nós não iríamos trair a confiança do outro grupo. Pouco antes da segunda rodada de negociações, tivemos a notícia de que o outro grupo tinha traído.

Eu fiquei chocado, principalmente porque acreditava muito na pessoa com quem negociei. Não me restou outra alternativa a não ser passar a função de líder para um outro integrante do grupo, afinal de contas, isso seria o mais óbvio a fazer caso estivéssemos no mundo real também.

Enfim, o tal dilema do prisioneiro foi provado e eu continuo sem entender porquê as pessoas precisam mentir e trair ao invés de colaborar, sendo que TODOS sabem que os resultados são os melhores para ambas as empresas caso as duas colaborem entre si. Por acaso faz parte da natureza humana querer a desgraça alheia? Asseguro que não faz parte da minha, mas olhando para o resultado desse jogo (e aproveitando para fazer um paralelo com a situação atual no Líbano), infelizmente acho que esse é o caso.

E o que as pessoas que traem dizem para se justificar? A resposta mais comum era “ah, mas isso é só um jogo”. Pois na minha opinião isso faz da situação ainda pior – se alguém é capaz de mentir e trair por NADA, fico imaginando o que não fariam por dinheiro, sucesso ou seja lá o que for.

Quanto à minha amiga, eu não podia estar tão errado com relação à ela. Claro que a minha confiaça nela ficou abalada, mas depois do tal jogo e das discussões em sala, em que o meu grupo mencionou como eu lidei com a situação, essa minha amiga ficou tão arrasada e com vergonha de si mesma que eu cheguei a ficar com pena. Mas antes ela ter aprendido dessa forma do que ter que presenciar tal situação na vida real. E tomara que tenha aprendido mesmo...

Meu grupo perdeu o jogo...claro que isso não me alegra, porém poder estar sempre de cabeça erguida e agir de acordo com os meus princípios é algo que meu pai me ensinou e reforçou no dia-a-dia, seja através de palavras, mas principalmente através de atos. Prefiro perder meu emprego do que perder minha dignidade. Prefiro perder meu emprego do que passar como traidor. Prefiro perder meu emprego do que perder meu melhor amigo.

Ética não é algo que se aplica aqui, mas não ali; de acordo com a conveniência da situação. É algo que deve ser aplicado todos os dias e guiar as ações de cada indivíduo. Pois nada como poder falar com os outros olhando diretamente nos olhos, sem ter vergonha de ter feito algo errado e poder colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz.

Aliás, é exatamente isso que farei agora pois amanhã será o meu primeiro dia de trabalho na Carlson Wagonlit Travel aqui em Paris. Quanto ao casamento na Provence, acho que foi o melhor que eu já estive! Foi realmente fantástico e me diverti muito no final de semana. Como esqueci a minha máquina, dependo dos meus amigos para poder colocar fotos aqui no blog, mas o farei assim que possível.

8 comentários:

Anônimo disse...

Alan,
Adorei esse post, e eu tinha certeza que voce iria agir assim!
A melhor coisa è poder andar com a cabeça erguida, mesmo perdendo emprego, eu nao consegueria dormir sabendo que tenho sucesso ou outras coisas, porque menti ou trai alguem! Mesmo assim, isso è a coisa que mais acontece nos nossos dias nè! Todos querem tudo e agora!
Tenha uma boa semana.
henrique

RM disse...

Alan, gostei muito do post! Eu penso EXATAMENTE como vc e já me dei mal várias vezes por causa disso, tanto pessoal como profissionalmente... é o preço que se paga por ser autêntico...
Beijos!!

Marlene Maravilha disse...

Coragem e autenticidade fazem parte integrantes uma da outra. Gosto destes que agem assim. Parabéns. Sempre há quem aprenda com as verdades da vida proferidas por um bom caráter.
Sim, creio que nos veremos em breve!! depois comentamos.
Amo a Provence. Amo. Amo. Aí tive grandes momentos! Que lugar foste precisamente neste casamento? Quero muito ver as fotos!
beijos

Anônimo disse...

Queris, é por essa sua atitude e por tantas outras que eu me orgulho muito de vc.
Um bj bem grande.

Anônimo disse...

tout à fait d'accord!
tem que ser ético, não importa que o mundo não seja. não dá pra perder as esperanças, não é mesmo?
bisous,
Tati

Anônimo disse...

Falou tudo. ô post bacana esse o seu.
Fiquei curiosa com relação ao teeeste... Me conta / envia se vc tiver ?

Vou para CPH no começo de setembro !!! Oba !!! Mas só vou reservar passagens semana que vem. E pode deixar que farei o possível para ir via Charles de Gaulle, monsieur... =D

Beijocas

Anônimo disse...

Companheiro (nenhuma apologia ao Lula - Deus me livre)

EStou orgulhosa de vc...
És um bom exemplo para meus pequenos...

BJs

Juliana (a irmã da Dani)

Anônimo disse...

Eu tambem estou muito orgulhosa de voce.

beijos,

Zoila.