quinta-feira, setembro 28, 2006

Peculiaridades de Paris - Globalização

Um sujeito pára e fuça nos bolsos para encontrar um troco para poder dar ao mendigo, um senhor barbudo, todo despenteado, sem tomar banho no meio da Rue Rambuteau de pé e com a mão estendida.

Ao encontrar as moedas e colocá-las na mão do pedinte, o mesmo diz "thank you" ao invés de "merci".

Voilà, época de globalização e competição acirrada - até mendigo tem que falar inglês pra continuar sobrevivendo!

sábado, setembro 23, 2006

Fazendo a diferença

Não que eu quera mudar, mas mesmo que quisesse, agora seria um pouco tarde. Com um grau de bacharel em Administração e agora prestes a pegar o meu diploma de mestrado em Administração, o meu futuro é fazer negócios, moviementar dinheiro, gerar lucro para as empresas.

Para que o parágrafo acima não soe de forma negativa, quero esclarecer que estou feliz com a minha escolha e até então tive prazer onde trabalhei e gosto do que faço. Mas uma pergunta sempre me vem à cabeça de vez em quando: como eu posso fazer a diferença no mundo? O que eu posso fazer para ajudar as pessoas. Tudo bem que os administradores geram negócios, que movimentam a economia, que em contra-partida geram novos empregos, etc, etc. Mas tudo isso acontece num nível muito macro e dificilmente conseguimos ver as consequências concretas das ações diárias do nosso trabalho. Ou ao menos do meu.

É muito fácil entender do que estou falando: um(a) professor(a) na sala de aula está em contato frequente com os seus alunos e pode acompanhar o aprendizado deles e ver o resulado concreto de suas ações e que através da educação que está passando para esses alunos eles irão se desenvolver, pensar, questionar, progredir. E dessa satisfação eu posso falar com conhecimento de causa da época em que dava aulas de inglês para os sobrinhos da minha prima lá em Curitiba para ganhar uma grana na época que eu estava na faculdade.

Outro exemplo óbvio são as pessoas que trabalham para organizações internacionais como a ONU por exemplo. Os médicos, que lidam com a vida humana diariamente.

Há pouco mais de um ano quando viajei com a minha amiga Dani, eu a vi escrevendo um cartão postal para mandar para as crianças de uma escola onde a irmã dela, a Juliana, trabalha. Meses depois eu fiz uma viagem ao Líbano e resolvi fazer o mesmo e enviei um cartão para essas crianças. Foi o primeiro cartão postal internacional que as crianças receberam. Quando soube da repercussão que esse cartão teve com essas crianças da 2º série de um colégio público de Cajamar, fiquei felicíssimo que esse gesto tão simples pudesse ter causado neles tal efeito.

A Juliana me contou que eles ficaram super curiosos para saber onde ficava o país no mapa, que língua eles falavam, como eu me comunicava com eles, qual era a bandeira do país, etc. Então quando soube disso, resolvi continuar me comunicando com essas crianças através dos cartões postais e cada vez que viajava, mandava um cartão para eles. O melhor foi quando a Dani veio me visitar no final do ano passado e com ela trouxe um pacote de cartas escritas pelas crianças endereçadas a mim.

Era incrível ver a naturalidade e a inocência com que me escreviam e como através desse gesto eu criei um vínculo com elas. As perguntas na carta eram as mais variadas, entre elas queriam saber se eu gostava de bolo de chocolate, como se chamavam meus pais, se eu tinha irmãos, se eu era rico, quando eu iria ao Brasil novamente, entre muitas outras. E gostei também de saber que todas as meninas da escola tinham me achado bonito!

Pouco antes do verão iniciar aqui na Europa e todo mundo partir para as férias, pensei, por que não estender esse ato aos meus amigos, afinal de contas, eu já estudei com gente de mais de 40 nacionalidades na Dinamarca e estou num ambiente similar agora no MBA. Foi exatamente isso que fiz – mandei um e-mail para toda a minha rede de contatos explicando o feito com as crianças e pedindo para que esses meus amigos mandassem um postal para essas crianças mostrando algo típico do país onde estavam, que escrevessem um pouco da cultura do país, das comidas, da língua, da vida deles, enfim contando algo que despertasse o interesse dessas crianças a continuar na sala de aula, de questionar, de saber que o mundo está cheio de oportunidades para elas.

Soube que as crianças e a Juliana já receberam cartões postais de Cingapura, da Finlândia, da Alemanha, da Grécia, da Dinamarca e vários outros devem estar a caminho.

Há pouco mais de uma semana recebi um e-mail da Juliana agradecendo pelos cartões e contando que ela tinha sido transferida para ir dar aula em uma outra escola.

No e-mail ela me disse que as crianças diziam “Tia, e agora, o Alan vai continuar escrevendo pra gente?” e estavam preocupadas em saber se quando os cartões chegassem se a nova professora iria entregá-las.

Resumo da história, no último dia da Juliana, as crianças não vieram à escola. Nenhuma delas. Essas crianças, acompanhadas dos pais, foram protestar para que a Juliana ficasse. Como para isso havia a necessidade de aprovação de alguém superior, o caso foi devidamente encaminhado e aprovado e lá está a Juliana continuando o seu trabalho com essas crianças.

Então essa história é para parabenizar a Juliana por estar educando essas crianças com paixão, visando o desenvolvimento delas e mostrando que caso elas queiram, elas vão conseguir ter uma vida melhor do que a dos pais delas. O primeiro resultado concreto pode ser visto agora com o fato de ela ter ficado na escola. Aqui fica a minha admiração e o meu agradecimento por ter me dado a oportunidade de participar desse projeto com você e não se preocupe porque esses meninos e meninas continuarão recebendo fotos e histórias dos quatro cantos do planeta.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Saiu no Wall Street Journal

Abaixo segue o link para o artigo que saiu no Wall Street Journal do dia 12 de Setembro em que eu fui mencionado devido à uma entrevista feita com Ron Alsop.

A entrevista fala de como os MBA estão inovando para ensinar os alunos de forma diferente e criativa e o que se espera desse tipo de atividades e também o que as empresas acham disso.

Para ver o artigo, clique aqui (se você tem adobe acrobat reader) ou para ler na internet, clique aqui.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Eu tinha certeza!!

O padre está distribuindo o cálice para os diáconos que irão auxiliá-lo na comunhão quando as 3 adentram corredor da Notre-Dame adentro. A primeira, talvez com pouco mais de 40, cabelo tingido de loiro, sei lá o que vestia. A segunda, talvez da mesma idade ou um pouco mais velha, porém de pele mais escura e cabelo moreno. A terceira, uma senhora com mais de 60 anos, gorda, pele morena e cara de feliz.

Mesmo com a parte da frente da catedral quase lotada, elas chegam no final da missa, mas querem sentar lá na frente! Quase trombam com os diáconos no corridor quando decidem enfim escolher um lugar para sentar. Só haviam dois lugares vagos, a senhora gorda foi a primeira a entrar na fileira junto com a morena e a loira ficou virando em volta tentando achar um lugar pra ela. Finalmente desistiu e resolveu se juntar às outras duas que já estavam acomodadas e encontrou conforto nos olhos da senhora gorda que fazia um sinal do tipo “Pode vir aqui com a gente, nós damos uma espremedinha”. E foi literalmente isso mesmo que ela fez – deu uma bundada no sujeito sentado do lado dela e a loira logo se acomodou e sacou a máquina fotográfica para tirar uma foto do altar. Com flash! Os diáconos quase caíram...

Não chegaram nem a sentar e logo já se puseram na fila para a comunhão. Achei engraçado porque tanto minha mãe como nas aulas de catecismo sempre soube que para a missa ser válida e poder comungar, a gente precisa de uma certa preparação e um ligeiro atraso é até compreensível, desde que se chegue na igreja antes do evangelho. Sei lá, acho que a professora de catecismo delas era diferente.

E lá se foram as 3, felizes e contentes para comungar. Missão cumprida, o padre deseja um bom domingo a todos e elas saem faceiras pela corredor, mergulham a mão no pote com água benta, benzem a si mesmas e a morena então dispara “Ai, que sensação de paz” num português bem brasileiro seguido de um “Mãe, toma cuidado pra não cair aí na entrada” para que a senhora gorda não acabe com a festa da viagem e a sensação de paz incrivelmente obtida com os 8 min. 27 seg. de missa que elas assistiram na Catedral Notre Dame de Paris no último domingo.

sábado, setembro 09, 2006

Final de semana com amigos



O Henrique chegou em Paris...nada como um fim de semana com um bom amigo!
Aliás, mais um convertido - Henrique, que achava Paris "ok", já está completamente apaixonado pela cidade...

quinta-feira, setembro 07, 2006

Alan, le Parisien

No meio de um metrô lotado de gente semana passada, me vi fazendo o que achava impensável quando cheguei em Paris. Esmagado no meio da multidão que vai ao trabalho todos os dias entre 08:30 e 09:00, eu simplesmente peguei o meu livro e segui lendo durante todo o percurso, em pé, sem me importar com as freiadas bruscas ou com quem quer que seja que estivesse ao meu lado.

Isso é tipicamente parisiense! Quando se adentra um vagão de metrô aqui, pelo menos 60% das pessoas estão com um livro ou jornal abertos. No começo eu achava meio estranho, mas pouco a pouco fui me adaptando a esse costume e agora saco o meu livro sem nem perceber – principalmente depois que roubaram meu iPod...e antes do iPod eu geralmente caía no sono quando a viagem era muito longa. Aqueles que me conhecem bem sabem que eu faço isso com a maior facilidade...

O livro que estou lendo atualmente chama-se God Save la France de Stephen Clarke (o título original é A Year in the Merde) e fala sobre um inglês que vem expatriado a Paris e conta as peculiaridades da vida parisiense. Um pouco exagerado certamente, mas leitura obrigatória para qualquer estrangeiro que venha morar em Paris. As partes que o autor escreve em inglês, mas como se fosse um francês falando, são de chorar de rir. Coisas como “I am very appy work wiz you”, “Compiouteur système” ou ainda “Oui, my asband was angliche” – quem já falou inglês com um francês sabe que eles falam exatamente assim! É hilário.

Curioso que o livro começa explicando a rentrée. A rentrée é o retorno das férias de verão, que nunca é inferior a 2 semanas, sendo que a média deve ser 3. Assim como dizem que no Brasil nada funciona antes do Carnaval, aqui na França nada funciona em Agosto. Paris vira praticamente terra de ninguém. Os restaurantes fecham e na porta colocam um papel sulfite informando que todo mundo partiu em férias e volta só em Setembro. O restaurante italiano ótimo que fica perto da minha casa fechou na metade de Julho e abriu somente na última segunda-feira. O metrô cede espaço aos turistas americanos com suas camisas floridas e máquinas fotográficas sofisticadas penduradas no pescoço; os alemães com seus chinelos e meia branca ou preta, depende do gosto do cidadão; os japoneses sempre em grupo e sempre com uma sacola da Louis Vuitton, Burberry ou Gucci; e por aí vai.

Férias de verão são sagradas para os franceses. Funciona como se fosse um ritual que todo mundo está habituado desde que nasceu. Então essa última semana o escritório voltou a ter gente. Todo mundo bronzeado e dizendo como é duro voltar depois de 3, 4 semanas de férias e que então eles preferem “pegar leve” essa semana e no week-end prochain eles vão para a Provence porque parte da família ainda está por lá.

Geralmente quem sai de férias sou eu! Fiquei indignado de estar trabalhando o mês de Agosto todinho e todo esse povo falando dos lugares que foram!! Quero pra mim também...já combinei com um amigo que caso a gente fique aqui na França mesmo, vamos alugar uma casa em St. Tropez para o próximo verão e no começo de Setembro voltaremos bronzeados e reclamando do trânsito, do monte de gente na Côte d’Azur, do problema para conseguir reservas nos resturantes, etc, etc...aí sim, nos tornaremos verdadeiros Parisienses, on deviendra vraiment Parisiens.

domingo, setembro 03, 2006

Com ou sem paixão?

Madonna cantou. E continua arrastando multidões nas principais cidades do mundo para vê-la “cantar”. Os ingressos se esgotam como num passe de mágica e pouco importa se o valor é de EUR 100, EUR 200 ou até mais...

Nunca me aventurei num concerto internacional no Brasil. Sempre fui meio averso à multidões e nunca tive interesse em assistir algo num campo de futebol onde pode se ver o artista praticamente do tamanho de um grão de arroz. Entretanto, pensei que seria legal ver Madonna aqui em Paris.

No dia 31 de Agosto às 21:15, terceira noite de apresentações da super star aqui em Paris, ela literalmente desce ao palco dentro de uma bola enorme, igual a essas que dão efeito de luzes nas boates enquanto a música Future Lovers começa a tocar.

Tudo perfeito. Aliás, quase tudo, porque num raro momento de interação com o público, ela pergunta para uns fãs segurando a bandeira de Portugal em frente ao palco de onde eles eram, “nós somos de Lisboa”, “ah, então quer dizer que vocês são espanhóis”. Ok, tudo tecnicamente perfeito. Inclusive ela, que já beirando os 50 parece ter acabado de fazer 30.

Luzes, movimentos, efeitos visuais, coreografia e figurino dignos de uma super-produção da Broadway.

Mas ainda assim faltava algo. Faltava paixão. Faltou Madonna me deixar com os pelos arrepiados. Sabe aquilo que já falei numa história anterior da sensação de ouvir o primeiro acorde de uma grande orquestra sinfônica? Faltou justamente isso...faltou a paixão pela música e a vontade de dividí-la com aqueles que pagaram caro para as 2 horas exatas de concerto, nem um minuto a mais, nem um a menos.

Do pouco francês que falou, uma das frases foi “je suis fatiguée”. Cansada de estar ali? Fiquei tentando entender o porquê do cansaço, uma vez que no dia anterior não teve concerto e na quarta-feira dia 31 ela começou o show às 21:15. Entendi que deve ser o cansaço de estar fazendo algo mecânico, como uma linha de produção, sem espaço para criatividade, sem espaço para improvisação. 1, 2, 3, 1, 2, 3.

Valeu a pena ter ido ao show? Sim. Irei no próximo (se é que vai ter um) ? Provavelmente não.

E num momento de transição entre o meu emprego anterior e o que virá no início de 2007, tenho total convicção que preciso de algo que me faça levantar da cama de manhã com paixão e motivação para fazer seja o lá o que for na minha vida.

Não quero fazer algo mais ou menos. Não quero fazer algo que não me deixe criar ou pensar. Quero uma estrutura, mas ao mesmo tempo quero liberdade de pensamento e ação. Quero, através do que for fazer, poder dar aqueles ao meu redor a mesma sensação que a orquestra sinfônica me dá quando toca com maestria uma obra de Mozart, pois somente assim terei certeza de estar fazendo o meu trabalho plenamente.