quarta-feira, agosto 09, 2006

E se fosse com você?

O neném recém nascido dorme tranquilo no banco de trás de um Mercedes enquanto uma chuva torrencial cai do lado de fora e a mãe imbica o carro na entrada da garagem. E é justamente nessas horas que o maldito controle remoto não funciona...aperta o botão da direita, nada; não custa tentar o da esquerda, mas mais uma vez nada; aperta mais forte e nada. Sai debaixo de chuva e toca o interfone pedindo para que o marido acione o portão do lado de dentro mas a essa altura já é tarde demais e ela tem uma arma apontando pra ela ordenando para que não reaja ou senão “leva bala”.

O sujeito, jovem e sem carteira de habilitação, entra no Mercedes e tenta dar a marcha ré para pôr o carro na rua e sair rapidamente dali. A mãe, que imagino que deixaria o tal delinquente levar o carro sem o menor problema, abre a porta do passageiro de sopetão dizendo que ele não pode levar o carro.

O desespero é mútuo – de um para ter o filho nos braços e do outro para “dar o fora” antes que a polícia chegue. E nesse desespero as lágrimas da mãe rolam e a ânsia de recuperar o seu filho é tão grande que palavras não lhe vem à boca e numa fração de segundos o tiro é disparado e o pé vai fundo no acelerador para sair o mais depressa possível dali, sem saber que uma pequena criatura de alguns meses dorme calmamente ao som da chuva que insiste em cair.

A cena acima é um dos trechos do filme Tsotsi, o filme sul-africano que ganhou o oscar de melhor filme estrangeiro esse ano entre vários outros prêmios. Para qualquer um de nós, Brasileiros, que formos assistir esse filme, é inevitável comparar o caos que paira sobre Johannesburgo com a violência que qualquer cidadão do Rio ou de São Paulo está susceptível todos os dias quando parte rumo ao trabalho, para uma caminhada no parque ou para encontrar com amigos para um jantar.

Quem de nós não conhece alguém que morreu injustamente de forma banal? Quem de nós não conhece alguém que sofreu um sequestro relâmpago (ou até mesmo foi vítima de um)? Quem nunca foi abordado por um trombadinha? Quem não conhece alguém ou foi vítima de assalto em casa?

Me fez lembrar (com tristeza) que esse era um dos principais motivos que me faziam não gostar de São Paulo – a insegurança em que se vive nessas cidades, onde a dependência de câmaras, guardas, portões e outros aparatos cada vez mais sofisticados e cada vez mais caros é tão grande que de repente, quando deparamos com a estabilidade e segurança de uma cidade européia, nós não só enxergamos como valorizamos essa “liberdade”.

Não estou dizendo que não existam problemas por aqui, afinal de contas eu acho que meu pai nunca foi assaltado em São Paulo e um espertinho passou a mão na carteira dele em Roma. O que me refiro é à violência gratuita, é a fragilidade com que a vida humana é tratada e a insegurança que vivemos rotineiramente, que pelo menos pra mim, eram motivo de agonia.

7 comentários:

Vick disse...

Infelizmente o lugar perfeito nao existe...

Anônimo disse...

camarada, em primeiro de tudo um abraço!
agradeço as tuas visitas ao meu blogg e aprecio o teu comment!
É bom sentir neste universo pessoas preocupadas e com um imenso sentido de apego!
Infelizmente neste mes de Agosto a minha ligação ao virtual, á blogosfera é reduta! por isso fiz uma ligeira pausa!
Não te vou dizer que li este post porque é falso. Não lhe daria a importancia e absorveria o sumo que pretendes!
Prometo vir com tempo revisitar-te e ler teus pensamentos com a atenção devida e necessária!
Fica o abraço ee a promessa!
Até já!!!!!

Paulo Santos

Marlene Maravilha disse...

Em todos os lugares acontecem coisas. Sei que aqui é um pouco exagerado, mas eu concordo contigo que prefiro a liberdade que também sinto na Europa! Me aguardes!
bjo

RM disse...

Entendo perfeitamente o que vc diz.
Nunca fui assaltada mas sou um pouco neurótica, principalmente se vou a SP. Janelas do carro sempre fechadas, olhares para os lados sempre que abro o portão de casa, se tem alguém andando atrás de mim já apresso o passo, etc. Nem a sacada de casa pode-se deixar aberta p/entrar um solzinho... há um tempo atrás estavam assaltando com vara de pescar aqui na redondeza, acredita? "Pescaram" a carteira do vizinho!
Sequestros relâmpagos acontecem na esquina da minha casa e já tive alguns amigos sequestrados por 10/15 dias.
Sei que as coisas acontecem em qq lugar do mundo, como já vi em Napoli, Palermo, Madrid e várias outras cidades, mas de todo jeito me sinto muito mais segura nesses lugares porque são praticamente casos isolados e não generalizados como aqui, infelizmente.

RM disse...

adorei teu recado no meu blog! ;-) estou num internet cafe mas assim que comprar o notebook, falaremos com mais calma.
beijoooos e nos vemos em outubro! (ou antes, se vc quiser vir me visitar!)

Renato disse...

Perdi um colega a pouco tempo numa situacao assim estupida, como essa relatada...
nao sei mais o que comentar...

Anônimo disse...

sabe o q eu lembrei?? quem mesmo foi assaltado no caminho do shopping?? foi vc?? hehehe...q adolescÊncia essa nossa eim!