O estrangeiro entra de um lado do metrô semi lotado e avista um lugar vazio do outro lado do vagão. Marcha no meio de todos e chega do outro lado.
Na configuração dos bancos, 4 pessoas podem se acomodar num tipo de ilha em que duas pessoas ficam cara a cara com as outras duas. Dois lugares na janela e dois no corredor. O lugar vago nesse caso é um dos lugares perto da janela.
Ele diz "Excusez-moi" enquanto os outros mal movem as pernas para dar pessagem. Ele entra mesmo assim. Porém ao entrar, cambaleando no meio das pernas dos outros passageiros e do vagão em movimento, ele esbarra com a mão nos óculos da francesa de 45-50 anos sentada em uma das cadeiras do corredor.
“Me desculpe” ele diz. Ela dá um quase berro, tira os óculos, examina-os e passa os dedos ao redor dos olhos como se um deles tivesse sido estirpado pela esbarrada do estrangeiro.
Ela reclama, diz meias-palavras e passa o papel que está na mão dela para a mão do estrangeiro dizendo “Faça pelo menos alguma coisa boa por mim, vote na Segolène”. Ele imediatamente revida, retornando o papel para ela com um tácito “Eu não voto!”
Chegamos na próxima estação e os outros dois passageiros do metrô de Paris descem, deixando a francesa e o estrangeiro sozinhos. Ela, que estava sentada ao lado dele, muda de lugar e se põe face a face, como se fosse começar o debate.
Silêncio breve. A francesa continua a analisar seus óculos.
Não demorou muito até que ela se manifestasse. Olhando para os óculos, ela solta “Me passa seu endereço, você vai pagar o conserto dos meus óculos”. Vale dizer que os óculos não pareciam nem de longe danificados. O estrangeiro, achando que a tal senhora tivesse tendo um espasmo de loucura, não se manifesta. Ela repete “Me passa seu endereço e telefone”. Ele olha para ela sem entender o que está acontecendo. E a francesa diz pela terceira vez “Me dá o seu telefone, tenho testemunhas aqui que presenciram tudo”.
Já sem paciência para a insanidade da francesa, o estrangeiro num ato abrupto retoma a folha que ela lia sobre a Segolène Royal, olha bem no fundo dos olhos dela e diz “Me dá uma caneta”.
Silêncio breve novamente. A francesa abre a bolsa com hesitação e meio que sem jeito fecha a bolsa sem lhe passar a caneta e delicadamente pega a sua folha de volta dizendo “Mas você não fez intencionalmente, não é?”
Como ela vai descer na próxima estação, ela segura as mãos do estrangeiro e lhe deseja um bom dia. Antes de sair ela diz “Me desculpe, agi tomada pela dor”. E retifica o desejo de une bonne journée.
Um amigo que vive aqui em Paris há muito mais tempo do que eu, ao ouvir a história, lançou o veredito de imediato “Ah, mais uma das senhoras solitárias e sem sexo de Paris em busca de de contato humano”. Pobre criatura!
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9 comentários:
Ela pode até ser mesmo uma pobre criatura, mas vive em PARIS!!!!!
Tudo de bom!!!!
Beijo e muita saudade!!!!
Nosso encontro foi tão rápido, que ficou um gostinho de quero mais. Mesmo assim, ainda bem que ele aconteceu!!
Paola
hahahahahahahahahahahahhahaahaha, que historia otima otima. Dessas que salvam o dia. Muito engraçado. (Menos engraçado se a gente pensa na solidão da coitada. Mas talvez não seja solidão. Ela estava soh te azarando!).
Hahahahahahaha....
Vou comecar a andar nos metros de Paris com o cabecao de tartaruga pra ver se alguem me esbarra nos oculos. ;-)
Lindas fotos da Costa....
To indo... fui!
hahahaha muito boa!! to imaginando a cara da mulher.....
Alan, querido!!!
Saudades das suas estórias e desse senso de humor inteligentissimo que só vc tem... vc faz mta falta, viu!
Espero que esteja td bem por ai...
Mil bjs, Malu
Por onde anda o senhor?? Beijos!
Estar em Paris é tudo de bom!!!!
Passei para te deixar um grande beijo!
Olá!!!!
Nao, vou p/Gréciaaaaa! ;-) Nao vejo a hora!!
A foto do blog é da Riviera Ligure, Cinque Terre, estive lá há 2 fins de semana atrás.
Pelo jeito vc anda ocupado por ai... qdo vai ter férias?
Beijos!!
Alan, o Fooding de Paris é em Vitry s/ Seine, no dia 10 de junho. O link pro menu, pra você ficar com agua na boca: http://www.lefooding.com/evenements/2007/ete/vitry.php
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